terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desvendando o espelho

Folheava meu dicionário pessoal rapidamente e, por mais que eu quisesse, não encontrava a palavra. "Locupletar", "Locutor". Ali no meio, nada. Perturbei-me por um curto instante; Mas ao ouvir o silêncio, a calma. Tomei um gole d'água e finalmente olhei ao meu redor. Meu quarto. A segurança de que ninguém entraria. Espalhados pelo chão, centenas de rascunhos. Desenhos, amores e desamores, desabafos ridículos. Objetos em lugares para mim fixos, minhas manias mentais. Como num mergulho no meu oceano tão pessoal e seco, abri novamente o dicionário e, mediando a riqueza e o narrador, escrevi a lápis mesmo "Lócus". Fechei-o e vivi um sorriso em que abrir a boca nem foi preciso.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Sobre o amor

Puro é quem nunca sofreu de amor. Quanta inocência possui os olhos daquele que nunca mergulhou em planos frente ao nostálgico porta-retrato que já mais parece um epitáfio do que qualquer outra coisa. Quanta angústia boa nas pernas do pobre esperançoso. Quanta dor no rosto do que sorriu o tempo inteiro. Se paixão corrompe e o amor purifica, como não há de ser corrupção o que o "puro sentimento" faz com a nossa razão?
De maneira alguma digo mal do amor. É conforto, beleza, sonho e cegueira. Mas acaba. Se-para os dois, bom. Se-para um, é evidente a fogueira ainda existente no peito do abandonado. Fogueira que, se antes ardia de paixão, agora chama inconforme solidão.

domingo, 22 de agosto de 2010

Permita o sumiço

Palavras podem falar mais que o vento quando sopra, que a chuva quando molha, que a força quando move e o fogo quando queima. Causam alívio quando esperadas, espanto quando entendidas, esperança a quem concorda e desespero quando acabam sem nada trazer. Letras que se unem, palavras que se formam, frases que se encaixam e pensamentos que nascem. Nascem para viver, vivem para crescer, crescem nos invadindo e nos invadem quando morrem. E somem. Somem em frente ao silêncio. Silêncio esse que consegue falar mais que o vento quando sopra, que a chuva quando molha...