terça-feira, 28 de setembro de 2010

Socorro, razão!

Sabia do seu sentimento. Sabia de você. Conhecia toda pouca palavra por ti pronunciada e também suas conseqüências. Mesmo assim meu coração passou a pulsar. Minha barriga por dentro nevava. Os sonhos voltaram a ser constantes. Sua imagem parecia ter sido implantada, à força, em minha mente. Provei ingenuidade acreditando na mudança de quem nunca quis mudar, crendo nas palavras de quem nunca quis falar, entregando-me a quem nunca me quis inteiro. Não te culpava: apenas era alvo da minha inquieta angústia pulsante. Não culpava o amor: fiz dele a inconsciente estratégia para poder pulsar. Se culpei a mim? Ah, e tanto. Deixei-me enganar abrindo a porta para a não-reciprocidade, quando essa dizia ser o nobre sentimento.
Somente o que apaziguava todo esse alvoroço interno era a amiga realidade que a todo o momento desmascarava meus sonhos. Seria a escuridão ofuscando meu ar puro? Tudo de novo, nada novo.

sábado, 11 de setembro de 2010

Um mal-estar sem estar.

      Não era mais possível ficar imóvel, mesmo que fosse torturante levantar.
Nas caixas lacradas e recheadas de passado, resolvi buscar alguma evidencia que justificasse aquela sensação. Abri todas as pastas com a etiqueta “Saúde” e devorei com olhos e mãos todos os relatórios um dia já feitos sobre mim. Corria o dedo pela lista de minhas doenças comuns e forçava-me a ter esperanças sobre o que não precisava ser esperado. Não existia qualquer razão: não ali.
Desde que fui tomado por essa angustiante sensação, venho procurando um motivo que não seja verdadeiro. Eu sabia que meu aparelho respiratório, feliz ou infelizmente, funcionava perfeitamente... Naquele momento, contudo, eu praticava o sempre mais rejeitado e enojado por mim: a fuga. Estava quase insuportável a sensação de sufoco. Do mesmo jeito que minha vida, a respiração não se completava, tornava-se pesada e parecia quase desaparecer apesar de nunca tê-lo feito efetivamente. Não queria entender.
      Estava quase insuportável a sensação de sufoco. Resolvi então obrigar-me a respirar. Frente à porta, inspirei profundamente. O ar entrando em meus pulmões comprimia a dor e isso incomodava ainda mais: Foi o que bastou para que eu deixasse para trás a porta escancarada, o quarto vazio e o que nunca me pertenceu.