domingo, 9 de novembro de 2014

É você colorindo tudo por aqui

Instante.
Se cada momento fosse um toque e em cada toque coubesse uma vida
Uma vida na qual olho para o lado e te enxergo caminhando em minha companhia
Sua presença que me abraça apenas por simples existir
E me segura de que tudo permanecerá tranquilo. Mesmo em meio ao caos.

E você adentra minhas escuridões e passa por minhas traças. E traços. E traga.
Traga o silêncio ao burburinho, e traga a fumaça que se espalha pelo ar pesado misturando-se à angustia que se respira por aqui. E tudo pára.

Cá dentro todos te olham e as máquinas lentamente vão parando e há aquele entreolhar geral em que internamente se indagam sobre você
E você caminha devagar olhando em volta, provavelmente meio curioso e espantado mas isso é o que eu acho e eu sempre acho errado – o que encontro é sempre melhor.

E nesse meu mundo de transtorno você vira o centro, até as árvores param de se entregar ao vento
E se entregam a ti
Ao teu sopro
E caem aliviadas
Assim como meus muros se despencam lentamente ao te olhar
Ao teu olhar.

Talvez você não veja nada, é escuro por aqui
Meio complicado e os caminhos mais se assemelham a labirintos teimosos subterrâneos que levam ao mesmo lugar
Mas com um pouco mais de tempo há tempo de sobra pra você conhecer a história de cada pedra chutada ao chão.

Deslizando por meus tuneis você me inquieta
Me remexo ao passo em que sou surpreendida pelo raio de sol que adentra pela janela
E suspiro.

É você colorindo tudo por aqui. 

domingo, 31 de agosto de 2014

Sabe

Esses dias ele acendeu o cigarro e me passou, eu traguei e me sorriu perguntando: “é ele?” Soltando a fumaça e a certeza, respondi: “é ele.” Era você. Você quem eu sempre quis ter ao meu lado sem nem ao menos conhecer sua existência. Sabe, eu ontem te escrevi. O relógio já marcava a madrugada que eu gosto tanto mas geralmente não enfrento por preferir dar aos sonhos a responsabilidade de trazer os monstros do que arrastá-los pra cá eu mesma pelo braço. Te escrevi e pus pra fora toda angustia que me ansiava, sem pensar formular ou ajeitar semântica. Foi bom. Te escrevi e apaguei, não enviei, por medo de te sufocar por todos os lados com meus sentimentos tão precoces. Pareceu meio bobo. Palavras comuns, usuais, corriqueiras. Verdadeiras. Apaguei. Deveria ter enviado. Você sorriria.

Sabe, eu queria ter um barco. Desses grandes cheio de velas meio antigos que me fizessem largar tudo e só ir, sem volta. Eu não sei se iria gostar de passar tanto tempo ali dentro olhando o mar sem alguma perspectiva de chegar e foda-se o mundo e tal mas você poderia vir comigo se quisesse. Eu queria ter um barco e eu queria que você viesse comigo. A gente poderia ficar ali conversando, eu te fazendo cafuné e você poderia ter quantas horas de sono quisesse sem se preocupar com nada porque não haveria mais nada. Eu poderia escrever, escrever sobre você, escrever sobre o mar, escrever sob você e o mar. Te escrever. Sem apagar, te descrever. Descrever esses teus medos tão iguais aos meus, acalmar teus monstros apresentando-os aos meus e os mandando nadar por aí e nos deixar em paz um pouco. A sós.

Sabe, às vezes eu penso nos dias que perdi sem falar desde o início o quanto você me encantou. Me apaixonei na primeira conversa e escondi isso por tantos seguidos instantes ao teu lado. Eu não queria que você fugisse. Mas você não fugiria. Eu hoje sei. Sabe, é verdade, quando eu saí da sua casa ela me perguntou “e aí como foi”, assim como me perguntava a cada noite que eu gastava o tempo com alguém idiota, e apesar de sempre receber um “ah nada demais”, naquela quinta-feira, já naquela primeira madrugada, é verdade, eu juro, de mim ela ouviu um “tô apaixonada”. Se você não fosse tão louco quanto eu, jamais te contaria isso, mas te conheço minimamente pra saber que você até sorriu com essa maníaca-informação. Viu, eu disse.

domingo, 24 de agosto de 2014

Assim

E você me chega e vem e ao mesmo tempo em que está aqui na frente parado me olhando com esses seus olhos de quem quer me descobrir você está também dentro de mim se delimitando em minhas margens e estrangulando limites e chega mais pra cá.

Só me abraça e entende, entende que eu te quero, não importa como nem quando nem onde e nem porque, eu só te quero porque é assim que é. Pode ser amanhã ou pode ser agora, assim como foi ontem, pode ser um telefonema lavado de álcool e sinceridade e medo, ou então pode ser você chegando do nada ou então eu aparecendo de surpresa olha só, tô aqui, pois é, eu vim. Pode ser. Ou pode ser uma chamada no vídeo enquanto você faz qualquer coisa e eu te olho e meu deus que bom que eu te encontrei. Quem sabe até mesmo um recado assim espontâneo que aparece no meu celular numa tarde qualquer mostrando que você lembrou de mim e me fazendo sorrir porque olha só que engraçado eu também estava pensando em você. Pode ser assim, pode ser agora, pode ser amanhã mas de alguma forma você precisa saber que eu te quero na minha vida.


Às vezes admito não saber se você é de verdade mas tudo bem porque eu adoro viver uma mentira. Na minha mentira em que você começa a me beijar na sala e a gente vai tropeçando até a cama e eu quase caio e você me segura e ri. É dessa risada que eu to sentindo falta agora. Do jeito que deitado você me olha e me segura e eu te beijo e você me beija de volta e a gente se perde nos cobertores por que andou frio nesse mês. Dessas verdades que eu chamo de mentiras e invento que não lembro pra parecer menos real. Menos verdade. Porque a verdade é que você está longe, longe mas bem dentro de mim. E precisa saber, moço, você precisa saber, é verdade, eu quero você na minha vida. 

domingo, 17 de agosto de 2014

Entre

Me pego trincando os dentes enquanto termino a quarta taça de vinho. Ouço tuas palavras e tua voz me invade os ouvidos como música. Tento me manter concentrada nas suas linhas de conto e não me perder nos meus pensamentos aceleradamente perturbadores que atropelam tudo que veem e querem ver pela frente. Você vem, senta do meu lado, ajeita meu cabelo atrás da orelha e me beija. Eu fecho os olhos e tudo gira. Tento manter os olhos abertos pra não me perder mais ainda nos seus lábios perfeitamente encaixados aos meus e, surpresa, franzo as sobrancelhas. O seu beijo. Há tempos não encontrava uma coisa assim.

Acordo um tempo depois na sua cama, nua, com você me abraçando. Com frio, me ajeito e você, meio dormindo, beija minhas costas e me puxa pra perto. Você é a pessoa mais incrível que conheci nos últimos tempos e por um curto momento tento esconder isso sob todas as circunstâncias que como aquelas propagandas indesejáveis da internet ficam pulando na minha mente uma atrás da outra. No entanto, parece tão certo. E exato. E eu não quero estar em nenhum outro lugar.

Nas entrelinhas do toque manso e cuidadoso, nos sorrisos que antecedem o desvio do olhar, cauteloso, é que encontro o instante. O agora. Há também as entrelinhas no suspiro, aquele que meio camuflado urge será-que-você-também-tá-sentindo-o-que-tô-sentindo-agora. Há entrelinhas nas palavras não ditas e nas quase ditas estacionadas na garganta por receio medo precaução. Maldito pedágio da razão. Talvez ainda não tenha tanta coragem de pagar, abandonar o troco ali mesmo e sair atropelando a cancela da língua.

Entrelinhas tão claras que não há mais entre. Apenas linhas, que me-ligam-te na mais leve simultaneidade do agora, do querer e do sim. Mas entre.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Voou

Que teu sorriso se arque
                com ou sem minha presença
Mas que você nunca se esqueça ou despreze
                 quem, primeiramente, ensinou-te a sorrir.

 Em mim,
                  de mim,

Para sempre.

sábado, 14 de junho de 2014

Também

E me brinca e me joga e me puxa e me agarra e segura e me beija e me empurra e me sente.

E me olha e me ri me despreza e se rende e me prende e me tem.

E me morde e aperta e joga e me toca e me faz estremecer entre teus dedos teus lábios teu cheiro tua pele

Inteiro

Enfeitiça

Com os olhos a voz os efeitos cabelo o jeito o sorriso a lágrima o aperto o estar a presença o amor e tudo que é de nós que existe no dolorido espaço tão milimetricamente distante entre isso.

É tenso é instinto é intenso e belo e puro e revolto e cruel e encanto.

quinta-feira, 12 de junho de 2014

No nada não há não

Aqui te faço
e te faço agora, ontem e amanhã
e em cada momento que minha pele tocar a tua, seja qual dimensão
será.
Aqui.
Agora.

Essa tão tênue linha entre a saudade o toque o riso e o depois
a escuridão do depois
esse que mais ainda assombra os medos e mói sonhos.
Maldito.

E enquanto nossas lágrimas existirem separadamente juntas
simultâneas
cada uma em cada qual solidão
não aqui, mas agora,
faz-se nós.
Nós.
Nós enozados em nossa própria saudade,
aquela que criamos, alimentamos e que quase cresce e toma tudo.

E quando tomar tudo,
destruir tudo
e mergulhar no vazio do escuro que de tão caótico se amansa,
haverá nada.
No nada, meu bem, o que nos impede?
Nós.
Nós enozados em nós.
Tão atados transpassados firmemente entrelaçados,
nós.


terça-feira, 3 de junho de 2014

Desliga esse relógio.

Você me teve. Até agora você me tinha.
E foi cego demais pra perceber que estava em suas mãos mesmo negando. Cego pra perceber que eu não ia deixar você ir embora. Não enxergou que eu te agarraria em meus braços sem deixar que você fosse pra qualquer outro lugar que não a nossa cama.
Você levantou e perguntou e exigiu e não enxergou. Não captou que se tivesse ficado quieto e deixado a minha imaginação fluir, eu manteria o teatro sou-livre-não-preciso-de-você-nem-quero-você-pra-ser-feliz e quando chegasse a hora eu agarraria e não soltaria e seria assim.
Mas você não deixou. Você me obrigou a agir de modo sensato e não deixou eu me perder nos seus cabelos e tardes e noites e silêncio e silenciamos e me-deixa-ficar-aqui-até-perceber-que-eu-não-quero-viver-sem-você.
Mas você remexeu. Você me perdeu.

domingo, 30 de março de 2014

Puro

Na minha janela você taca uma pedra
Sorri e assovia
Assovia e sorri
Manda um beijo e se vai

E de repente pela minha porta adentra
Sem mais nem menos
Fantasiado entra
E não reconheço se é máscara, carne ou osso

O que é isso, meu bem?
Seria meu bem isso?
Cada resposta por baixo do medo
Cada medo revelando a vontade.

À vontade
Sirva-se
Mas, antes, descarnavalize, meu bem
Que dentre esses confetes,
já não sei se aquilo era mesmo janela
Ou meu próprio coração.

Festa em três tempos

Cá dentro te busco
Discreta, te cato em cada canto
Não acho
Nem rastro nem farelo nem pedaço
E aplaudo.

Saída de mestre
À francesa
Como se nunca tivesse vindo
Como se da festa não tivesse aproveitado
Como se não fosse o modelo dos quadros da parede
As sombras que compõem cada junção de letra nas páginas
Os rabiscos em todo papel espalhado
Como se não fosse o ar que encheu cada balão.

Tua surpresa
Olha que surpresa!
Você nunca existiu.

sábado, 29 de março de 2014

Frasco

A esmo
Por teu corpo corro
Escorro e morro
Entre cada pedaço, quem sabe eu encontro
Te encontro
A esmo

Nunca o mesmo.