domingo, 17 de agosto de 2014

Entre

Me pego trincando os dentes enquanto termino a quarta taça de vinho. Ouço tuas palavras e tua voz me invade os ouvidos como música. Tento me manter concentrada nas suas linhas de conto e não me perder nos meus pensamentos aceleradamente perturbadores que atropelam tudo que veem e querem ver pela frente. Você vem, senta do meu lado, ajeita meu cabelo atrás da orelha e me beija. Eu fecho os olhos e tudo gira. Tento manter os olhos abertos pra não me perder mais ainda nos seus lábios perfeitamente encaixados aos meus e, surpresa, franzo as sobrancelhas. O seu beijo. Há tempos não encontrava uma coisa assim.

Acordo um tempo depois na sua cama, nua, com você me abraçando. Com frio, me ajeito e você, meio dormindo, beija minhas costas e me puxa pra perto. Você é a pessoa mais incrível que conheci nos últimos tempos e por um curto momento tento esconder isso sob todas as circunstâncias que como aquelas propagandas indesejáveis da internet ficam pulando na minha mente uma atrás da outra. No entanto, parece tão certo. E exato. E eu não quero estar em nenhum outro lugar.

Nas entrelinhas do toque manso e cuidadoso, nos sorrisos que antecedem o desvio do olhar, cauteloso, é que encontro o instante. O agora. Há também as entrelinhas no suspiro, aquele que meio camuflado urge será-que-você-também-tá-sentindo-o-que-tô-sentindo-agora. Há entrelinhas nas palavras não ditas e nas quase ditas estacionadas na garganta por receio medo precaução. Maldito pedágio da razão. Talvez ainda não tenha tanta coragem de pagar, abandonar o troco ali mesmo e sair atropelando a cancela da língua.

Entrelinhas tão claras que não há mais entre. Apenas linhas, que me-ligam-te na mais leve simultaneidade do agora, do querer e do sim. Mas entre.

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