segunda-feira, 25 de novembro de 2013

90°

"Take me to the place where you go
Where nobody knows if it's night or day"


Onde a noite se costure ao teu olhar e o sol nunca venha te levar embora

sábado, 13 de julho de 2013

Retalhos.

        Quando deitados na tua cama calma pelo chá que tu me fez, ríamos deitados de banalidades implantadas pra interromper meu choro e ouvíamos minhas músicas que claramente tu não gosta mas me pedia pra tocar, só pra me ver sorrir e espantar minhas lágrimas doídas. Ou então o seu olhar fugido pro meu enquanto eu dirigia aquele dia, quando eu tentava olhar pra frente mas só conseguia esticar o olho pro lado e contemplar você me contemplando. Era saudade. E cada instante, cada luz, eu lembro, cada cor decor. “Tu é linda, sabia?” você falou e não, eu não sabia, por que você fala pouco isso. Você deveria ter falado mais, eu gosto. Gosto, mas não tanto quanto gosto da sua cara preferida, depois daquele momento preferido – você sabe qual é. Ou quando, deitados na minha cama, com os peitos doloridos pela noite separados, eu te leio um trecho de um livro que nos lembra e, entre risadas, nos beijamos com sorrisos discretamente manipulados pela malícia contida nas palavras lidas. E você põe de lado o celular em que jogava nossos jogos estúpidos e enrosca seus dedos magnéticos no meu cabelo, puxando minha cabeça pra perto e alternando sua boca em beijos e palavras obscenas ao meu ouvido que entregam nossas cenas de entrega. E então me joga pra trás revelando não saber explicar o que acontece quando está comigo – só que é muito bom e que nunca sentiu coisa melhor.

       Parece que uma bolha de mágica se forma quando estamos a menos de um metro de distância um do outro, unindo nossos corpos, pensamentos e vibrações numa intensidade que mexe com tudo que eu sou. Poderiam esses relatados serem apenas cinco minutos diferentes de dias diferentes. Mas, ao teu lado, são retalhos de uma vida. Apesar da dor, do silêncio, do desespero, da lágrima e do peito rasgado, quero te acertar de que ainda penso em suavemente tocar teus lábios desejando boa noite, beijar teu rosto dizendo que te amo e me aconchegar entre teu pescoço e teu peito, acariciando teus cabelos e tendo a certeza de que nos pertencemos incondicionalmente para sempre. Tua, sempre tua. Mesmo longe.

                                                                                                  Carta sem data

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Nós enosados no chão pertencentes à nós enosados no céu

Quando eu entro no teu quarto ou caminho pelo meu e vejo no chão coisas que te tem e ao mesmo tempo são parte de mim, mas que eu não posso simplesmente recolher e levar embora quando você me mandar embora por que são também suas. E nem te devolver, por que são também minhas. E isso é o mais triste. Coisas que se tornaram nossas e não adianta trazer ou devolver, pois não é mais só meu e não é mais só seu. É nosso. E cada vez mais essas coisas crescem e me atormentam, no escuro, no claro e no óbvio, e são camisetas, são casacos, são livros, são CDs, presentes, alguém desconhecido que me esbarra, uma nota fiscal na carteira, um filme aleatório na TV, um cheiro que vem quando eu abro o armário e encontro uma roupa lá no fundo, olhares, sentimentos e dores. São tudo. E é tudo tão nosso que eu nem mais ser sem isso. 



Eu queria te dizer que eu tava aqui sem coragem de ter coragem de te dizer que eu tava com medo de não passar o medo e eu passar do tempo de termos tempo de nos dizer.


Por "Isadora não entende nada".

domingo, 30 de junho de 2013

1987 2013, tende piedade de nós

anos ímpares
são anos vítimas
anos sedentos
de sangue e vingança
todo gozo será punido
e o deserto será nossa herança

anos ímpares
são sarampo ínguas cataporas
bocas que praticam
tacos e cacos de línguas
lixos onde mora a memória

muda a regra, muda o mapa,
muda toda a trajetória
num ano ímpar,
só não muda a nossa história


Paulo Leminski

quarta-feira, 5 de junho de 2013

domingo, 5 de maio de 2013

Roleta nossa de cada dia

         Acordei sem saber o que faria, me vesti sem saber pra quem, me dirigi a te encontrar sem saber se realmente te descobriria. Você era mistério. Mistério exigindo resposta. Um ponto de interrogação que, sinceramente, não planejei desvendar. Apenas fiz. E faço até hoje. Entre olhares de superestimação e falso desinteresse, você me pediu pra fechar os olhos. Eu verdadeiramente não esperava encontrar, ali, numa tarde desproposital de inverno, o melhor poema por mim já lido: teu beijo. Todos os escudos e barreiras que passei meses, dia pós dia criando, foram vencidos. Não que eles não estivessem ali: parte deles está até hoje, mas simplesmente desistiram de tentar proteger o que se convenceu a ser invadido. Se eu soubesse que aquele enigma loiro de jaqueta, óculos e touca, tomando café e lendo “Cândido ou o otimismo” do Voltaire me causaria tanta submersão em dor, segredo, gozo e sentir, nunca teria fechado os olhos. Quem seria agora a escrever então? Continuaria não me sendo e deixaria de te ser, seguiria seguindo sem nunca ter pra onde seguir de verdade. Foi como se, durante todo esse tempo órfã de ti, eu tivesse ficado na caixa dos pinos esperando alguém simpatizar com a minha cor e jogar-me no tabuleiro. Você brincou de apostar na minha profundidade e, sem querer, colocou-me no jogo despida, sem égide ou lança. Obrigada.

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Você em mim


Quero noites intermináveis
Quero noites que se emendem ao sol e sempre
Quero teu beijo a cada dor
Teu lábio suavemente tocando o meu
Agressivamente mordendo o meu.
Quero teus dedos despretensiosos deslizando pelo meu braço enquanto qualquer coisa acontece
Teus dedos maliciosamente deslizando pelas minhas costas enquanto a gente se deseja
E teu abraço seguro no sim e no sempre
E teu peito a cada lágrima
E tuas mãos a cada queda
E você a cada vida.

Quero a sinceridade do toque
Quero a súplica do olhar
E o sorriso que antecede o riso.
Quero a entrega sem delonga
O contato sem medida
O encaixe arrepiante
O amor errônea e lindamente incondicional
Quero você
De volta
Pra mim.
Como sempre foi.

E se a eternidade pode durar apenas um segundo
Que me perdoe o coelho,
Essa eternidade é pouco.
Tu tens o pior e o melhor de mim
E não há jeito mais sutil e verdadeiro pra dizer que tu simplesmente me tem.

Pequei por querer-te demais
E muito pra mim
E sempre muito
E demais em mim.
Quero-te meu
Mas para que seja meu deve ser nosso
E para que seja nosso é preciso ser também teu
Perdoa-me. Todo meu erro é amor.
E todo amor é teu.
Agora.
Ontem
E amanhã.
Sem mais pausas.
Vem.

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Itinerário

Chego e enterro minha presença. Vejo a vida (dos outros) acontecer ao redor. Passa um, passam dois. Um suspiro. Pensamento implausível. O asfalto, ao meu lado, abaixo, moldado à tantas atrasadas vidas  rolando em suas costas. Conversas paralelas, olhares perdidamente determinados ao oco destino. Alguns vão, outros seguem aguardando. Passam três, quatro e cinco. Todos vão. Repassa o primeiro. E o segundo. E a vida. Só fico eu, contraditoriamente enterrado na ideia mais livre que existira, e um morador de rua, já residente daquele úmido canto, acompanhado de seu saco-cheio-de-nada. Ele me olha. Mexe em sua sacola, revira seus pertences (e o que pertence?). Re-olha-me. Levanta as sobrancelhas e solta. "Moço." Suavemente desloco meus olhos ao homem. "Que mal te pergunte, que ônibus espera? Já faz horas que tá aí parado e tudo que tinha pra passar já passou. Umas três vezes" Sem mostrar os dentes nem as lágrimas, sorrio. "Eu espero qualquer um que não passe aqui." E fiquei.

quarta-feira, 6 de março de 2013


PS: Minha pele ainda implora por tuas unhas e dentes.


 PS: Meu corpo ainda estremece com cada barulho de carro na minha rua quase deserta, desejando que seja tu a estacionar em frente à minha janela.

terça-feira, 5 de março de 2013


PS: Meu peito ainda espasma quando toca em qualquer outra coisa que não seja teu corpo.