domingo, 5 de maio de 2013

Roleta nossa de cada dia

         Acordei sem saber o que faria, me vesti sem saber pra quem, me dirigi a te encontrar sem saber se realmente te descobriria. Você era mistério. Mistério exigindo resposta. Um ponto de interrogação que, sinceramente, não planejei desvendar. Apenas fiz. E faço até hoje. Entre olhares de superestimação e falso desinteresse, você me pediu pra fechar os olhos. Eu verdadeiramente não esperava encontrar, ali, numa tarde desproposital de inverno, o melhor poema por mim já lido: teu beijo. Todos os escudos e barreiras que passei meses, dia pós dia criando, foram vencidos. Não que eles não estivessem ali: parte deles está até hoje, mas simplesmente desistiram de tentar proteger o que se convenceu a ser invadido. Se eu soubesse que aquele enigma loiro de jaqueta, óculos e touca, tomando café e lendo “Cândido ou o otimismo” do Voltaire me causaria tanta submersão em dor, segredo, gozo e sentir, nunca teria fechado os olhos. Quem seria agora a escrever então? Continuaria não me sendo e deixaria de te ser, seguiria seguindo sem nunca ter pra onde seguir de verdade. Foi como se, durante todo esse tempo órfã de ti, eu tivesse ficado na caixa dos pinos esperando alguém simpatizar com a minha cor e jogar-me no tabuleiro. Você brincou de apostar na minha profundidade e, sem querer, colocou-me no jogo despida, sem égide ou lança. Obrigada.

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