quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Aos Joãos do mundo que sentem e não são

João tinha a alma maior que o corpo (ou seria o corpo menor que a alma?). Caminhava. Tropeçava. Caia. Machucava. Não se importava. Observava. Não se encaixava. Pelas ruas, não conseguia. Mas queria. Sabia: aquilo que sentia nele, não sentia nas pessoas. Outros sorriam sincero, ele apenas sorria. Bebia, fumava, estragava. Procurava. E, principalmente, aguardava. Esperava pelo dia que poderia sincerizar seu riso, como o resto.
Até que um dia, com muitos retalhos no corpo e a alma já úmida, concebeu: aquilo que era nas pessoas, não era nele. João tinha carne pequena pra pouco ser. João tinha espírito grande pra muito sentir. Reconhecendo em si todos os sentimentos do mundo, aceitou. Viveu. E, vivendo, viu seu corpo crescer. Sua alma, por vez, coube. Não deixou de sentir, mas passou a ser. João, então, sorriu sincero.

3 comentários:

  1. Me lembrou muito a frase que o Cristovão Tezza colocou no "Filho Eterno": "a alma dele ainda era muito pesada para suas pernas" (ou algo parecido). Gostei da maneira como tu conduz o texto.

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